Faz um bom tempo que não publico um texto neste blog. Numa pequena passada rápida nos posts mais antigos, percebo que esse “pedido de desculpas” virou quase que um padrão textual introdutório da minha parte. Involuntário, muitas e muitas vezes. Mas que agora percebo que não tem saído do meu discurso. Eu sei, é super louco: você pede desculpas por não escrever pra ter pessoas que voltem a te ler. Pode pesquisar aí meus textos anteriores. “Não pera, desculpa”. E a gente chega ao ponto de pedir desculpas por pedir desculpas tantas vezes. Quer ver?
A gente pede desculpas pelo atraso. A gente pede desculpa por interromper alguma coisa - mesmo que te permitam a fala. “Vai, sua vez”. “Não, não, desculpe, não pensei em nada. Desculpe”. A gente pede desculpas por não saber algo (oi?). A gente pede desculpas pela demora na resposta no WhatsApp. No Instagram. No e-mail. Pede perdón por não ouvir o áudio rapidamente; por não ver o link do post que recebeu. A gente se desculpa pelo atraso na resposta da marcação do Facebook - sim, ele ainda existe. Mas só pelo Messenger que não, tá? Esse aí não existe... sorry!
Aí a gente pede desculpas e ainda se justifica: “é que tava super corrido, eu até cheguei a visualizar, mas me desculpa mesmo”. E aquela olhadinha sem graça de gato de botas do Shrek. Foi mal, gente! 👀
Essa aí sou eu, após receber a notícia que estava indicada num prêmio de reconhecimento pela empresa toda. Cês acreditam? Porque eu não acreditei... |
Nossa, me desculpe, eu nem falei sobre o tema deste post. Eu ainda tava me desculpando porque eu nem sei se sei falar muito bem sobre esse tal assunto de petição contínua de desculpas. Então, me desculpe, tá? Aliás, me desculpe por tantos pedidos de desculpas. Eu sei, tá meio cansativo. Eu encho o saco quando venho com essa de pedir desculpas por meio que existir, sabe?! Minha presença cansa. Os pedidos de desculpas também, óbvio.
Cara, você tá lendo meu texto ainda? No quinto parágrafo? Eu mereço mesmo toda sua atenção nesse dia corridaço em que você-não-responde-seu-super-amigo-no-whatsapp-e-ainda-consegue-ler-meu-texto??? Sabe essa sua caixa lotada, esses 17 grupos cheios de mensagens mais legais, as 8 directs paradas lá e você ainda tá ME LENDO? Me desculpa, de verdade! Você realmente não precisava fazer tudo isso por mim. Eu não mereço.
Ahhh! É um presente... PRA MIM? Vocês me escolheram, real/oficial? Mas você tem certeza? Não tinha uma amiga melhor pra conversar, uma companhia melhor pra passar o tempo, um flerte melhor no metrô, uma mulher mais bonita pra trocar ideia? Você pesquisou direito? De todas as opções que você tinha hoje, você resolveu separar um horário nobre pra me ouvir falar ou ler meu singelo texto? Vai me falar que eu sou tão interessante assim pra prender sua atenção?
Eu sei, tem dia que me arrumo legal, fico bonitinha e até coloco salto alto. Tá bom, escrever é algo que faço de um jeito bacaninha. Okay, eu estudei pra caramba pra isso. Mas mano! Encontrar uma mulher mais segura de si é tão mais fácil! Você sente que ela tá super bem e não vem com esse meu blá-blá-blá de quem anda meio perdida nas coisas. Comé que vocês me aguentam, hein?
Espera aí. Eu realmente mereço esse reconhecimento? Sou uma profissional tão boa mesmo? Não é possível! Você tá me comparando com quem?! Para com isso! Você se inspira no MEU TRABALHO?? Nas baboseiras que eu falo? Nos livros que eu leio? Nesses posts nada a ver que eu raramente posto aqui? Blah!
É, meus caros amigos, essa ~divertida mente~ é tudo isso e mais um pouco.
Contudo, pra diminuir meu desespero, esse tema, a chamada Síndrome de Impostora, chegou pra mim sem ao menos eu entender que era “eu todinha”. Foram alguns vários podcasts, textos, reportagens, publicações de outros blogs. Pode dar um Google ou clicar nestes links que marquei pra conferir (obrigada, Bom Dia, Obvious! e Blog da Bru Fioreti no Universa, só pra dar alguns exemplos). Então, foi aí que eu parei e pensei: "eeeeepa, não sou a única!" Calma! Não tô comemorando não! Longe de mim...Ops, quase saiu uma desculpa nova aqui.
Eu só quero dizer pra você, querido leitor e leitora (por quem agradeço a paciência na leitura), infelizmente, estamos todos sujeitos a esses pensamentos. Eu contei aqui: a palavra desculpa e seus sinônimos e conjugações foram, ao todo, escritos VINTE E NOVE vezes neste texto até aqui. Pasmem.
E eu fiz isso pra propor um pequeno exercício: se disponha a ler esse texto novamente só que agora em voz alta. Assim, você pode perceber que isso vai esgotar todo seu esforço para realizar pedidos de desculpas por quase um mês inteirinho! E que alívio, meu bem!
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A gente precisa parar de achar que nossa existência é pequena demais pra merecer a atenção de alguém. Que essa quantidade toda de repertório que a gente possui - de forma exclusiva - pode ser pouca ou menos relevante do que outrem. Precisamos lembrar de toda essa bagagem de estudos, de ralação, aprendizados, experiências, vivências... todas valiosíssimas! Mesmo que, muitas vezes, pareça totalmente o contrário. Temos que nos dar conta que os lugares que ocupamos devem ser ocupados por nós mesmos sim e sim. E que, talvez, dependa disso pra ser muito bem preenchido!
Sabe a Barbie Fascista falando a memeira frase “porque eu mereci”? É o contrário verdadeiro disso (que, claro, denota privilégios bem arrogantes) - pois o assunto "meritocracia" num país tão desigual e com oportunidades distintas e separatistas como o Brasil já valeria outro texto. Mas o que falo aqui é do quanto se faz para merecer esse cargo, essa posição, esse lugar de fala, essa atenção de alguém, esse reconhecimento.
Mesmo que nem todo dia você esteja mega-blaster preparada pra reunião do trabalho. Mesmo que não esteja extremamente perfeita em todas as colocações que fala, nos pensamentos, looks, cabelo, maquiagem... E, claro, tá TUDO MAIS DO QUE BEM quando bater uma imperfeição de vez em sempre, viu? Alô, Brené Brown e sua maravilhosa palestra sobre vulnerabilidade! Ô palavrinha de paz essa!
O fato é: a gente merece MUITA coisa, meu amor! O que ninguém merece, absolutamente, é se desmerecer ao ponto de achar que é menos ou que é aquela fraude em pessoa pelo simples fato de EXISTIR. Nossa existência, na singular e individualidade, é tão, mas tão preciosa. Nossa história é tão única e existe taaanta coisa que podemos acrescentar no mundo. Por isso, nada melhor do que, neste momento, lembrar da frase ~comunistinha~ de que “se fere minha existência, serei resistência”.
Sempre. E isso vale até pra nossos próprios devaneios. Viva você, viva eu, viva nós. Somos todos merecedores - e não devemos aceitar nada diferente disso. Combinado, mente?! Mesmo que ela se esqueça, cê pode ler esse texto de novo outro dia. E sem desculpas pra não voltar, viu? 😜